domingo, 12 de abril de 2015

Pequena cronica domingueira -domingo no parque


 
Enquanto o sol ,à guisa de lua, banhava a copa das árvores, elas sorriam e abraçavam com calor os transeuntes . Todo o cenário tinha por fundo musical o canto de amor e dor das cigarras.A plenitude da vida desfilava pelas alamedas , os homens faziam a devida reverencia ao corpo, este bem caro nos dado pelo divino. Nos jardins, os pequenos faziam seu ruído habitual embora muito mais largo  fossem os sorrisos ; alguns celebravam mais um aninho de existência entre nós, indiferentes ao futuro ou ao passado e nos davam uma lição de  felicidade !Na minha mudez agradecia aos deuses por este momento  fotografado pelas retinas e guardado na memória!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

TAMBEM NAO SOU CHARLIE

                                                                                                                     
A liberdade de expressão e o direito á informação são direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal Brasileira como componentes da cidadania. No entanto, pertencem a duas categorias distintas: a livre expressão é um direito civil enquanto o direito  á informação está entre os direitos sociais,tal como saúde, educação , segurança e trabalho . Não raro se estabelecem tensões entre os direitos individuais e coletivos que exigem limites para evitar a supremacia de um em detrimento da garantia do outro. Apesar de reconhecer o direito à livre expressão o próprio legislador, no Brasil, admitiu a necessidade de regulamentação de alguns itens relativos á comunicação, por exemplo, na propaganda de tabaco, álcool, medicamentos, agrotóxicos etc. A respeito da convivência entre os direitos fundamentais acima referidos, o filósofo Norberto Bobbio  em seu livro A era dos direitos propõe para superação do conflito de concorrência entre eles: “a dificuldade se resolve com a introdução dos limites à extensão de um dos direitos, de modo que seja em parte salvaguardado também o outro”. Por exemplo, no direito á liberdade de expressão por um lado, e no direito do outro de não ser enganado, escandalizado, injuriado ou difamado. Nestes casos, deve-se falar em direitos fundamentais não absolutos, mas relativos, no sentido de que a tutela deles se encontra um limite insuperável na tutela de um direito igualmente fundamental, mas concorrente”. A revista  satírica francesa Charlie Hebdo   é reincidente na sua atitude  desrespeitosa  com o alvo de suas críticas . A questão fica mais complexa quando este alvo são lideres  religiosos. Basta lembrar a intolerância demonstrada   em vários países com abordagem do filme ” Jesus Cristo superstar". Scott Long , ativista americano em direitos humanos, em seu artigo “Porque não sou Charlie”( FSP 18 de janeiro de 2015) lembra que a sátira não deixa de ser um exercício de poder, um olhar por cima dos pobres mortais e que tem efeitos bem diversos quando atingem poderosos ou quando atinge minorias como é o caso da comunidade islâmica . A sátira dirigida aos mais frágeis pode inclusive legitimar e acirrar preconceitos. Ironizando o profeta Maomé, grande líder fundador do islamismo não se está atingindo só ele, mas a toda uma corrente religiosa que ademais de ser , desde os primórdios, uma rival do cristianismo, tem sérios ressentimentos ao Ocidente em decorrência do combate sofrido ao longo dos séculos. Convém lembrar também que os mulçumanos sempre expandiram sua fé por meio da força e de conquistas militares. Por sua vez a violência perpretada pelos cruzados no Oriente médio são feridas abertas entre as duas correntes religiosas.  Considere-se ainda que o Alcorão, como todo livro fundador das religiões, tem interpretação diversa por parte das diversas correntes de seguidores quando diz: “ quem mata uma pessoa , sem que haja cometido crime ou semeado a corrupção na terra, é como se tivesse matado toda a humanidade”.Ora,se no entendimento de um fanático muçulmano  os cartunistas semearam a corrupção ao ridicularizar o profeta,  deveriam ser mortos(?!).Considerando este contexto histórico, fica ainda mais complexa a análise das decorrências do deboche da imprensa francesa contra o profeta Muhammad( 570-632) . Em análise simplificada e sob a ótica da nossa Carta Magna artigo 221 §IV ,o respeito aos valores éticos e morais devem ser considerados em todo veiculo de comunicação, preceito não observado pelos cartunistas do Charlie que avançaram sobre o direito do profeta e de seus seguidores de não sofrerem vilipendio ou dano moral. O caminho de combate à violência, ao terrorismo e ao fanatismo não é outro senão o da abolição do preconceito, do diálogo e das ações políticas que estimulem a solidariedade e o respeito aos diferentes. Convém deixar bem claro meu veemente repudio ao assalto e assassinato dos cartunistas, mas por toda argumentação acima devo declarar que também não sou Charlie.






terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um intervalo compulsório

Por motivos pessoais e alheios á minha vontade , fiz um intervalo , longo, diga-se de passagem , entre as  minhas publicações neste blog. Volto  , pedindo desculpas aos leitores, e assegurando - lhes a regularidade dos textos de agora em diante. Um abraço a cada um em particular. Vejam o texto de hoje!

A cidade assustada

A cidade assustada
                                                   

Recife é uma cidade assustada; não raro  nos deparamos com uma manchete de jornal"comunicando" aos recifenses que a face conhecida da cidade será modificada por intervenções, a despeito da opinião  dos que a tem como colo materno.
Não foram poucos os poetas que exaltaram a  beleza dos Arrecifes dos Navios ( sec. XVI) e sua intimidade sensual com as águas  que beijam o corpo das ilhas que a compõem. Lembraríamos Carlos Pena.no seu Guia prático da cidade do Recife.O poeta afirma que a cidade seria “Metade roubada ao mar / metade à imaginação”; lembrava ainda que  é  também roubada ao rio  cantado pelo poetas João Cabral , Manuel Bandeira  e Joaquim Cardoso.
Nos dias de hoje a cidade é assustada, porque a cada dia a ameaçam de assalto e destruição. Há pouco vivemos uma crise de identidade com relação à demolição dos armazéns do cais José Estelita, para construir espigões que não têm o direito de posse daquela parte do Recife marcada por sua historia. Nossos jovens se opuseram a esta desfiguração e defenderam o cais, como fizeram seus antepassados frente às naus estrangeiras que apontavam no horizonte a nos invadir. Pois bem, mal suportamos esta ameaça e nos chega mais uma.  Desta vez, o alvo é a Vila naval situada em Santo Amaro. São 125 mil metros quadrados que serão alienados do nosso passado histórico e cedidos novamente á barbárie do capital. São cento e cinqüenta e cinco casas de arquitetura típica da década de 1930  que constituíam a vila das costureiras da antiga Fábrica Tacaruna (este prédio está ainda de pé, mas invadido pelos vândalos sob a s vistas do poder publico). Note-se que, ironicamente, a Vila naval  é Zona especial de preservação do patrimônio Histórico e cultural ( Zeph 19).
Apaga-se a paisagem bucólica das pequeninas casa de frente ao mar, um oásis para os olhos e testemunhas para nós e as futuras gerações, da beleza natural  da cidade cantada  por seus poetas.  Lembro agora  a emblemática canção de Capiba: Recife, cidade lendária /de pretas de engenho cheirando a bangüê /Recife de velhos sobrados, compridos, escuros /faz gosto se ver / Recife teus lindos jardins/recebem a brisa que vem do alto mar /Recife teu céu tão bonito /tem noites de lua pra gente cantar....
Nos dois projetos, Estelita e Vila Naval, nem as antigas  construções, nem a brisa que sopra vadia entre as pequeninas casas da Vila, nem o céu tão bonito, nem a lua de Capiba, terão direito a sobreviver pois estarão derrubadas as casas, confinada a brisa e a lua amordaçada pelos espigões que chegam a setenta e cinco metros de altura ou vinte e cinco andares. Respeitem nossa memória e deixem o Recife em paz!


artigo publicado no Jornal do Comercio 24..11.2014












quinta-feira, 17 de julho de 2014

A SELEÇÃO E A POLITICA BRASILEIRAS

É certo que não vivemos um clima  de euforia diante da perspectiva da realização da COPA em nosso pais . A tolerância do povo brasileiro chegou a seu limiar  mais baixo..Diante da  qualidade de vida da maioria da população, por omissão do Estado e pelos costumeiros desvios  do dinheiro publico, não tem havido clima para nossa antiga  alegria .No entanto,como por  milagre ,foi evidente  a mudança no humor dos brasileiros na medida em que se aproximava o inicio dos jogos. Não deu para negar a paixão que o esporte induz à nação. Temos um passado de pentacampeões e isto foi assimilado no consciente coletivo .A COPA passou a ser vista  como uma porta  que se abria para a vitória que traria de volta  nossa identidade perdida, uma vez  que elegemos  o futebol nosso representante simbólico diante do  mundo. Não houve criticas prévias à composição da seleção nem ao técnico  que a comandava. O ufanismo tomou conta dos brasileiros ao ponto de não enxergarmos a  fragilidade de nossa "seleção". E foi assim que chegamos às quartas de final  , de olhos vendados e sonhando um sonho impossível .Pegamos pela proa uma seleção  de alto nível  , harmonizada e  muito consciente  de sua capacidade , aliás, cultivada desde muito antes .
Diante do gigante, a claudicante "seleção" brasileira esfacelou-se.O espanto dos jogadores em campo,  os deixou atordoados e  incapazes de reagir, pela  inferioridade técnica , desarmonia e a consequente perda  da auto-confiança. Este cenário é o símile perfeito do povo brasileiro diante da  politica nacional.Somos um povo ultrajado por nossos representantes , O discurso vazio de credulidade  e os constantes insultos à nossa moral como nação, nos deixa atordoados. O  mesmo aconteceu com relação a seleção brasileira ; o povo que  ainda depositava  alguma esperança de reconhecimento sofreu a humilhante derrota diante a Alemanha A ferida narcísica  foi profunda e vai demorar a cicatrizar. Tomara que esta dor faça valer uma tomada de consciência  da responsabilidade ao escolhermos nossos futuros representantes tanto no gramado quanto nas diversas instancias do poder politico.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O BRASILEIRO CORDIAL E A COPA 2014

Confesso que estive muito apreensiva com respeito ao desenrolar da COPA em nosso país( ver meu artigo anterior Roupa suja se lava em casa).Receber alguem em nossa casa, demanda sempre buscar no profundo do nosso ser os sentimentos mais nobres como afetuosidade , solidariedade, compreensão , e ainda, criar em nosso ambiente um clima de alegria, que deixe no visitante  positiva e vontade de voltar ao nosso convívio. O Brasil  é a casa de duzentos milhões de pessoas. O que tem acontecido ( salvo algumas exceções) é um clima muito favorável, quando o brasileiro resolveu , por enquanto, rolar para baixo do tapete suas inquietações e insatisfações  pelo bem da cara do país. Isto é muito bom, Isto é o verdadeiro milagre brasileiro que só povo e, só ele, sabe fazer È mais um tapa na cara destes políticos que a todo instante desrespeitam não só a nossa vida mas a nossa alma.tão reconhecida no mundo inteiro como de gente feliz! Nós nascemos para o bem, para a felicidade, para o abraço, para o sorriso fácil e a musica como embalo de nossas vidas. Já temos que comemorar esse milagre que ,na verdade, revela , expõe e confirma irremediavelmete nossa conceito secular de homem cordial . Nunca é demais repetir a frase iluminada de Carlos Drummond de Andrade" futebol não se joga na praça. não se joga no campo , futebol se joga com a alma!!!
Deus nos conceda o amuleto que o Felipão com muita propriedade disse nos ter faltado na partida contra o México,  ELE concederá!

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O MASSACRE NA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL

Ter o privilegio de viver, e lembrar, como se fosse hoje, o dia 3 de Junho de 1989 , é o que me vem á cabeça por ocasião da passagem de vinte e cinco anos do massacre promovido pelo partido comunista chinês na praça ironicamente chamada de Praça da Paz Celestial , ou Tiananmen, em mandarim.. Na década de oitenta, um movimento tímido do partido com relação a uma liberalização da economia, suscitou entre os jovens um apelo por maior democratização do país. Isto gerou uma cascata de protestos , que se iniciou em Beijin, capital chinesa, e espalhou-se por mais 400 cidades do país. O estopim dos protestos foi a morte de HU Yaobang que havia sido afastado do cargo por ter posturas não alinhadas com o partido, enquanto defendia maior abertura e reformas politicas. A resistência dos jovensfoi heróica.Durante sete semanas mais de 100.000 estudantes acamparam na praça , ameaçando inclusive iniciar greve de fome. Ao final do período e apos tentativa de negociação frustada, o partido comunista chines decreta lei marcial e ordena uso da força para dispersar os manifestantes. Naõ se sabe ao certo o total de mortes, estima-se em 3000 jovens mortos pelos tanques do exercito que avançavam impiedosamente sobre eles. A estátua da democracia que havia sido eregida pelos manifestantes foi também derrubada pela força armada.
As novas geerções não se pronunciam sobre o episódio com medo da repressão e pelo desconhecimento do fato provocado pela força do partido.
Uma foto tornou-se ícone do movimento e reconhecida mundialmente como uma das mais significativas do século XX :a do rapaz solitário que se postou diante dos tanques enfrentando a força armada. Hoje, não se sabe o destino do jovem Wang Wellin, mas imagens testemunham sua coragem e heroísmo. O episódio, em tempo real, me fez escrever o poema:


Tiananmen, 1989

A morte serpenteou
sua cauda metálica
sob o sol humilhado de Tiananmen
( passarela escoadouro da liberdade abortada)

Nos pouso de Wang Wellin
o pássaro ferido da vida
estendeu seus braços-asas
e intimidou a morte armada